Em novembro de 2020 a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa , através do seu Centro de Testes (CT), e em parceria com a Associação Nacional de Cuidadores Informais (ANCI) lançaram um programa gratuito de rastreio regular à COVID-19 para cuidadores informais, pessoas cuidadas e seus familiares em convivência direta e que contou com o Alto Patrocínio de sua Excelência o Presidente da República.
Dia Mundial da Saúde: Testes gratuitos à COVID-19 para cuidadores informais
No dia mundial da saúde falámos com o Professor Ricardo Dias da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa sobre a importância deste programa.
Para o Professor Ricardo Dias da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa este projeto foi fundamental para prevenir a transmissão dentro destes grupos altamente vulneráveis. "Cada família é uma unidade epidemiológica única, composta por uma pessoa cuidada, um cuidador e respetivo agregado familiar. Estas famílias apresentam diferentes complexidades e dinâmicas, com interação direta com a sociedade em geral. Uma vez que o cuidador e a pessoa cuidada estão em contacto direto e permanente, uma infeção por SARS-CoV-2 pode disseminar-se rapidamente a ambos, sendo que o risco de evolução para infeção de prognóstico reservado para esta população poderá ser elevado.
A testagem semanal associada à deteção por técnicas moleculares de elevada sensibilidade permite que um caso positivo seja detetado precocemente entre o dia 2 e 4 após o contacto, eventualmente ainda num período assimtomático. Conjuntamente com os inquéritos epidemiológicos semanais e a vigilância das equipas locais de ação social do programa, as "famílias seguras" estão permanente sob vigilância epidemiológica e social."
Mas como é que surgiu a ideia do programa gratuito de rastreio à COVID-19 para cuidadores informais?
"Em maio de 2020, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa efetuou uma reflexão interna sobre a situação epidemiológica Nacional, com maior incisão sobre quais os cenários futuros mais prováveis para a pandemia, e quais as medidas de vigilância e controlo mais adequadas à realidade Nacional. Durante essa reflexão notámos que o grupo de cuidadores informais era um dos grupos de risco para a COVID-19 fortemente afetados pela pandemia, e que infelizmente não estava coberto por qualquer plano ou medida especifica de vigilância ou mitigação de âmbito institucional. Após validarmos a nossa reflexão com a Associação Nacional de Cuidadores Informais, percebemos que tínhamos que agir, o número desta população estava aumentar grandemente durante a pandemia. A partir desse momento, efetuamos o levantamento das especificações e requisitos técnicos para identificar a abordagem mais adequada à complexidade de vigilância desta população, que apresenta um conjunto de requisitos muito particular.
Após este estudo, o Centro de Testes Faculdade de Ciências começou a desenvolver e validar testes a partir de saliva, coincidindo com a aprovação em maio de 2020 do primeiro kit para colheita de saliva em casa para diagnóstico COVID-19 pela U.S. Food and Drug Administration (FDA), a autoridade americana que regula os medicamentos e dispositivos médicos. A testagem por saliva oferece várias vantagens, em relação a exsudados de naso ou orofaringe colhidos por zaragatoa, para esta população. A colheita de saliva é um procedimento simples, não invasivo e seguro. Não requer um técnico de saúde especializado, ou a deslocação a um centro de testagem, o que reduz o risco de transmissão, a utilização de equipamento de proteção pessoal e custos associados. Começámos então durante o verão a realizar estudos de estabilidade da amostra, tendo por base os dados publicados pelo Centers for Diseases Control and Prevention (CDC), a agência de saúde pública americana, que demonstrou a estabilidade do material genético do vírus SARS-CoV-2, podendo o mesmo ser detetado com fiabilidade na saliva durante vários dias sem refrigeração. Desta forma, realizámos estudos de validação para a estabilidade de amostras enviadas por transportadora/correio, de forma a possibilitar uma maior abrangência geográfica, mesmo para pessoas que vivem em zonas remotas. Devido à sua fiabilidade e baixo custo, os testes de saliva consistem sem dúvida uma das melhores opções para o aumento da capacidade e da frequência de testagem, ou sejam permitem abranger um maior número de pessoas e testá-las mais regularmente. Este último ponto é importante pois uma testagem regular, como a realizada pelo programa Famílias Seguras (semanal), torna mais provável a deteção de casos positivos. Devido às suas vantagens, o rastreio em larga escala com testes de saliva já está a ser usado noutros países nomeadamente em universidades e instituições no Reino Unido e EUA.
Após terminarmos os estudos de validação, iniciámos as inscrições para o programa em novembro de 2020. Entretanto em janeiro de 2021 iniciou-se a “3.ª vaga da pandemia” e o período de confinamento. Dessa forma, tomámos a decisão de sincronizar o início do programa com o início do processo de desconfinamento e a inclusão pela Direção Geral da Saúde (DGS) dos testes moleculares em saliva na Estratégia Nacional de Testagem.
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